No dia 19 de maio de 2012 parti na continuação de minha aventura, dois amigos me acompanharam até onde puderam, um era o Fabrício Almeida e o outro Alex Nobre, ambos movidos pela mesma energia viajante.
Foram 810 km até Itaituba-PA, e uma experiência inesquecível. Viajar com boa companhia sempre é bom, principalmente quando são grandes amigos. Aprendi muito mais sobre meus amigos, viajar de bicicleta faz com que você se conheça ainda mais e nesse caso conheça ainda mais seus amigos.
Cada um de nós fazia a viagem a sua maneira apesar de estarmos juntos, e tenho certeza que o aprendizado também foi diferente, dando a perceber a individualidade como tudo é interpretado na vida. As amizades, os lugares, a paisagem e tudo mais causava impactos diferentes em cada um, e poder compartilhar os diferentes pontos de vista era muito prazeroso. Se cada um entendesse como as pessoas são diferentes nesse ponto poderiam compartilhar os diferentes saberes, em vez de tentar impor apenas o seu modo de ver as coisas.
O Fabrício nos acompanhou durante três dias e deixou saudades, e seguimos eu e o Alex Nobre até Itaituba. De Itacoatiara viajamos de barco para Juruti pelo Rio Amazonas, e durante a viagem pude descansar e matar a saudade de viajar de barco, a vista da natureza neste tipo de viagem é maravilhosa e recomendo a quem nunca viajou pelo rio Amazonas que viaje e possa tirar um bom proveito assim como tive.
Em Juruti pegamos a estrada Translagos que chega próximo ao município de Santarém, visitando pequenas comunidades e conhecendo ainda mais a cultura paraense, como as casas de farinha, a castanha do Pará e o sotaque das pessoas da região. A maneira como as pessoas nos recebiam era sempre animador, e nos fazia se sentir em casa mesmo estando a quilômetros dela, a dificuldade da estrada era sempre recompensada com boas amizades e conversas pelo caminho. Ainda cheguei a lembrar de certos comentários do tipo, "E vocês nunca foram assaltados?", que algumas pessoas nos faziam nas maiores cidades.
Acho que as pessoas que fazem perguntas como essa dificilmente irão entender que existem muito mais pessoas boas do que más no mundo. Ao viajar me sinto mais humano, e de bicicleta então nem se fala, esse transporte simples sempre atrai pessoas de bom coração, dispostas a ajudar e compartilhar suas experiências. Para quem só conhece o mundo pela televisão só tenho a lamentar, e dizer que o mundo esta aí, e para conhecê-lo de verdade tem que por uma mochila nas costas e pé na estrada.
As comunidades que passei em boa parte desse percurso eram muito simples, e por vezes nao tinham nem energia eletrica. O interessante é que eram muito mais ospitaleiros e receptivos, alegres e mais cheios de vida, o que prova que bens materiais são incapazes de mostrar o valor de uma pessoa.
Pelo caminho dormi em borracharias, comunidades, fazendas e pousadas (nas maiores cidades), e o dia mais legal foi o que dormi em um trapichi no meio do rio Tapajós, coisa simples, mais com um valor incalculável.
Depois de ficar uma semana em Santarém decidimos continuar na estrada e seguimos para Rurópolis. Nesse trecho acabei adoecendo, fiquei com muita febre e dor de cabeça, e a causa talvez tenha sido uma mistura de enlatados que fiz no almoço, mas aprendi a lição e depois de uma injeção numa comunidade da beira da estrada e uma boa tarde de sono me recuperei para continuar pedalando. Esse tipo de coisa serve para alertar dos cuidados que temos que ter com nosso corpo, e o alimento que ingerimos é muito importante para aproveitar uma viagem com qualidade.
Já na Transamazônica encontramos uma figura na beira da estrada, era um outro cicloviajante com uma bicicleta simples, barba grande, roupas simples, mais uma sabedoria enorme. Conversamos bastante sobre viajar de bicicleta, trocamos algumas ideias sobre a vida e a loucura que ela é e seguimos ainda mais motivados para aprender sobre as grandes questões da existência, rs !!!
Quase não falei sobre meu amigo Alex Nobre, o cara é uma figura, e me acompanhou até Itaituba, sua terra natal, onde não visitava desde quando saiu ainda criança. Pude acompanhar sua felicidade ao reencontrar seus antigos amigos, e seu pai que é claro ja estava com saudades. Aprendi muito com Alex e com Fabricio que voltou no terçeiro dia de viagem, ambos são grandes amigos, e ter viajado com eles nos fez quase irmãos.
Em Itaituba contamos com a ajuda e ospedagem do Mauricio, amigo de meu pai, e de sua familia maravilhosa. Ajudas como essas são valiosas, e so tenho a agradecer a todos de coração, e saibam que ja fazem parte da minha bagagem no coração, pois assim como fica um pouco de mim em cada cidade que passo, tambem levo uma parte no coração e no pensamento !!!
Ciclo-Abraços
Alex Nobre, acampamento em fazenda no município de Rio Preto da Eva- AM.
Hora do almoço.
Outro cicloviajante, uma figura !!!
De barco pelo rio Amazonas, de Itacoatiara até Juruti.
Pneu furado.
Produção de farinha no Pará.
Fogão a lenha.
Alex Nobre.
Jantar.
Eu (Kayo Soares).
Lavando roupa.
Hora do sono, depois do almoço.
Estrada Translagos, de Juruti ate Santarém.
Trapichi no Rio Tapajós, pernoitei aqui.
Em direção a Transamazônica.
Floresta Nacional do Tapajós.
Hora do banho.
Andarilho.
Estrada Transamazônica.
Posto de saúde onde peguei injeção.
Coco.
Alex Nobre
A caminho de Itaituba-PA. Estrada transamazônica.
Muita subida.