sexta-feira, 24 de junho de 2011

Amapá - AP (pedalando do Oiapoque até a capital Macapá, 580 km)




Bom, primeiro me desculpem por ter ficado tanto tempo sem postar aqui no blog, mas enfim, finalmente vou contar minha passagem pelo estado do Amapá. Uma noite antes havia dormido no barco que viera de Altamira no Pará para poder economizar com hotel. O porto ficava na cidade de Santana á 18 km de Macapá, como ficava próximo cheguei ainda cedo na capital do Amapá, dando tempo de visitar a orla da cidade e a Fortaleza de São José (pontos turisticos da cidade) ainda pela manhã. Em Macapá ja tinha lugar para ficar, pois meu pai indicou a casa de uma amiga para poder ficar, pela tarde fui procurá-la e fui muito bem recebido pela sua família. Aproveitei para tomar um banho e lavar algumas roupas, depois avisei que pretendia ir no mesmo dia para Oiapoque, perguntei onde era a rodoviária e fui providenciar a compra da passagem de ônibus. O pessoal não entendeu muito bem minha pressa mas a verdade é que ja estava com muita falta da estrada, ja que havia ficado um mês em Altamira-PA praticamente trabalhando e quase sem pedalar. Agradeci a todos pela otima recepção e avisei que estaria de volta dentro de 15 dias, pois minha meta era pegar o ônibus até o Oiapoque e depois descer o estado pedalando até a capital Macapá (580 km).
Embarquei as 19:00 horas e deveria chegar ao amanhecer no Oiapoque, mas o ônibus quebrou no meio da viagem, o que acabou levando o dobro do tempo para chegar. Ainda na estrada com o ônibus quebrado minha vontade era de tirar minha bike e bagagem do ônibus e sair logo pedalando, a ansiedade pela estrada era enorme mas fui paciente e esperei até chegar no Oiapoque. Enfim quando cheguei a noite fui procurar um lugar para jantar e depois para dormir, achei uma pousada de 10 reais a diária, na verdade não era bem uma pousada, pois nem cama havia, tive que dormir na rede e sem ventilador, so paguei os 10 reais porque nao sabia como era o movimento da cidade e não confiei dormir ao relento naquela noite. Depois de um belo sono junto com as carapanãs acordei e fui logo arrumando minhas coisas para começar o dia na estrada, mas chovia muito, aliás chovia desde a noite anterior ao chegar na cidade, não tive escolha e fiquei esperando a chuva dar uma tregua para poder partir, ja pela tarde e ainda esperando a bendita chuva passar acabei desistindo de pegar a estrada e fui dar uma volta pela cidade para poder conhecê-la um pouco, fiz algumas amizades e fiquei sabendo algumas opniões de como é viver nesta cidade, a noite ainda joguei um video-game em uma locadora e relembrei meus tempos de criança quando jogava super-nintendo, joguei de graça pois tambem havia feito amizade com o dono da locadora. Não vão pensar que faço amizades apenas com a intensão de conseguir as coisas de graça, o que ajuda muito, mas sabe como é, o pessoal insiste muito para que eu não pague ja que estou viajando de bike, e eu como sempre acabo aceitando.
Depois de aproveitar o dia no Oiapoque voltei para aquele lugar ("pousada") de 10 reais para dormir novamente e pegar a estrada no dia seguinte. Esqueci de falar ainda estava chovendo, choveu o dia inteiro e ao acordar no dia seguinte adivinhem, ainda estava chovendo. Não aguentava mais tanta chuva, a chuva não ia embora, apenas ficava mais fraca e depois mais forte, e depois mais fraca e depois mais forte, etc... Mesmo assim com tanta ansiedade arrumei tudo e fui até o inicio da estrada aonde sempre comprava minhas refeições, ao esperar ainda a chuva passar fui abordado por um homem que dizia ser reporter, ele perguntou se podia me entrevistar e aceitei ja que tinha que esperar mesmo a chuva passar. Depois da entrevista ele me disse que era perca de tempo esperar a chuva passar, me explicando que no inverno daquela região chovia todo dia e toda hora o que me deixou logo preocupado, foi então que tomei uma decisão, no dia seguinte pegaria a estrada mesmo se estivesse caindo o maior pau-d'água, e adivinhem, rs, estava caindo o maior pau-d'água, e como o prometido sai assim mesmo com toda a minha bagagem dentro de sacólas para não molhar, não tinha idéia de como estava a estrada ja que nem fiz questão de olhar durante a viajem de ônibus.


No primeiro dia de pedal saindo do Oiapoque pedalei 50 km de asfalto mais 15 de estrada de chão onde encontrei com um senhor que tomava conta de uma fazenda, expliquei que estava procurando um lugar para pernoitar e descansar até o dia seguinte para poder continuar viagem, ele me disse que o dono não permitia que ninguem dormisse lá, mas o senhor foi muito generoso e permitiu que dormisse, e ainda me deu um belo jantar e café da manhã ao acordar, saí de lá cheio de frutas que me deu de suas plantações, agradeci a otima estadia e segui em frente pela estrada de chão. No caminho passei por diversas áreas indígenas o que me fez lembrar do estado de Roraima quando atravessei a reserva Raposa-Serra-do-Sol, pedalei mais 45 km até uma comunidade chamada de 1° do Cacipore, que fica na beira do rio Caciporé, lá pedi para dormir em uma empresa responsavel pela manutensão da estrada, quem me permitiu ficar lá foi o vigia, e ainda por lá cheguei a fazer um desenho de um dos moradores, pedi para um dos moradores preparar uma conserva que tinha para jantar e depois fui dormir, no dia seguinte fui convidado para comer uma lasanha preparada pela enfermeira da cidade, e é claro que não pude recusar, o que valeu a pena, fazia alguns dias que não comia comida de verdade e depois de agradecer a otima refeição peguei a estrada ainda pela tarde, neste dia finalmente pensei que iria pedalar em baixo do sol, mas a alegria durou pouco e logo começou novamente a chover sem parar Mesmo debaixo de chuva e ja ter saido tarde para pedalar consegui fazer 60 km chegando quase a noite na cidade de Carnô onde procurei logo onde jantar e uma pousada para dormir e descansar depois da tarde de pedal embaixo de chuva, no dia seguinte pedalei mais 70 km até a cidade de Calçoene no dia de chuva mais forte que peguei em toda a viajem, até la havia pegado estrada de barro e a chuva ainda deixava a situação mais delicada, pois muitas vezes ficava dificil de ver os buracos cobertos pela água, o que me resultou em algumas quedas mas sem nenhum prejuizo. Ja em Calçoene começaria a estrada asfaltada até chegar em Macapá, Calçoene é conhecida como a cidade onde mais chove no Brasil, e pude presenciar que ela merecia toda a fama que tinha, era incrivel como passei quase 3 dias sem quase não ver a luz do sol com o tempo quase que o dia inteiro nublado e chovendo todo dia e toda hora. As pessoas ja nem ligavam para a chuva e todos que eu via na cidade tinham sombrinhas.

Nos tres dias que fiquei por la aproveitei para comprar uma lona para cobrir a bicicleta na estrada quando novamente pegasse chuva, na verdade ja deveria ter feito isso para evitar toda vez ter que secar minhas coisas onde chegasse, mas bem logo estava novamente na estrada e depois de Calçoene passei por uma das experiências mais dificeis na viagem. Me enpolguei na estrada por pegar algumas horas de sol pela tarde, como o dia estava bonito aproveitei para diantar os dias de atraso causados pela chuva, queria chegar o mais longe possivel antes de anoitecer, e foi aí que quebrei a cara, pois anoiteceu e como nao parei para perguntar quantos quilômetros faltavam ate a proxima cidade tive que pedalar a noite, as horas passavam e nao via nem uma luz sequer, e para piorar ainda mais a situação adivinhem, caiu o maior pau-d'água, imaginem-se a noite na estrada com fome, quase com a água acabando, com frio, embaixo de uma chuva forte e sem ter idéia de qual a distância até a próxima cidade, pois é, eu estava em uma enrrascada mas contudo procurava me manter calmo, eu não conseguia ver nem mais um palmo na minha frente e não dava nem para pegar a lanterna dentro do alforge por causa da forte chuva ja que correria o risco de molhar tudo, até mesmo alguns equipamentos eletrônicos, só sei que continuei pedalando e depois de umas 4 horas neste sufoco ja perto das 21:00 horas cheguei em uma comunidade chamada Breu onde não havia restaurante nem mesmo uma pousada, ao passar pela última casa da cidade na beira da estrada encontrei com uma moradora que ia saindo de sua casa.

Ja estava perto de meia noite, e aquela senhora era a única que eu via por ali, ja que as pessoas dormem cedo no interior, expliquei miinha situação para ela, disse que estava viajando de bicicleta e que estava com muita fome e na cidade não havia restaurante nem hotel, ela se sensibilizou e mesmo com medo decidiu me ajudar, conversamos um pouco e depois de servir a comida mostrei algumas das fotos da viajem, ela ficou encantada com as immagens e lugares por onde passei e decidiu deixar eu atar minha rede na varanda de sua casa. Dormi muito bem e no dia seguinte me despedi daquela senhora e de toda a sua familia com a qual fiz amizade, ja na estrada e ainda com chuva, refleti sobre a situação do dia seguinte e tomar mais cuidado com as distâncias entre as cidades para não ficar na mesma situação do dia anterior. Pedalei bastante naquele dia e ao chegar na cidade de Tartarugalzinho fui abordado por um senhor curioso com tanto peso que levava na bicicleta, ele me fez varias perguntas sobre os motivos por estar viajando daquela maneira, expliquei pacientemente e assim como nas diversas outras vezes acabei ganhando um amigo, ele me pagou uma refeição (almoço) e depois continuei viajem até a cidade de Tartaruga Grande, engraçado que a cidade de Tartaruga Grande é menor que Tartarugalzinho, rs... tudo ao contrário !!! cheguei em Tartaruga Grande e me informaram que ainda faltava uns 60 km ate a proxima cidade, ja era tarde e decidi dormir por ali mesmo em um comercio, tambem jantei com o pessoal de la, assisti um jogo do Vasco e acabei torcendo junto com a galera, lembrando que não tenho nenhum time de preferencia !!!

Parti novamente e finalmente sem nem mesmo acreditar, pedalei em um dia de sol no Amapá, era quase que inacreditavel, ja fazia mais de uma semana que chovia, aproveitei para tirar fotos da estrada com o bom tempo, e a tarde parei em uma borracharia na beira da estrada para dormir á 12 km de Ferreira Gomes, o dono da borracharia me contou que seu sonho era fazer uma viagem de bicicleta de Belém-PA até São Luís-MA, conversamos muito, ganhei um almoço e um amigo e acabei pernoitando por lá mesmo, o ruim é que lá era um bar e de vez em quando de madrugada encostava carros com o som alto para comprar cerveja e jogar uma partida de sinuca, acabei acordando algumas vezes, mas deu para ver como é a vida de quem trabalha em beira de estrada... ao acordar tomei um café com os amigos da borracharia e depois peguei novamente a estrada, faltavam 150 km para chegar no Macapá, passei rapidamente na cidade de Ferreira Gomes para tirar algumas fotos, e depois continuei na estrada até chegar no encruzamento que vai para a cidade de Porto Grande e Serra do Navio, seria interessante ir ate lá e conhecer um pouco mais do estado, mas meu dinheiro era pouco e desviaria quase 200 km do caminho direto para o Macapá.

Almoçei por lá mesmo e ainda encontrei um cicloturista chamado de Juarez, ele me disse que era de Porto Alegre-RS e estava percorrendo toda a America do sul, ja estava com uns 5 anos de viajem e o curioso é que levavá um cachorro na bike, antes ele era bancário e agora tentava buscar um recorde de cidades visitadas com sua bicicleta. Faltavam 100km ate Macapá, ja não haviam mais ladeiras e o tempo era perfeito para pedalar, ja era umas 11:00 horas da manha, ja tinha almoçado e decidi pedalar os 100 km para chegar logo ate a capital. No caminho passei por enormes plantações de Pinho e Eucalipto, de empresas que fabricavam papel e derivados da celulose, não sei se essas empresas eram brasileiras mais sei que envestiam alto no negócio, de vez em quando era surpreedido por um trem que passava carregado de madeira ao lado da estrada, o visual era muito bacana.

Ainda peguei chuva a tarde, só para não esquecer a fama do estado com as chuvas. Cheguei a noite na casa da amiga de meu pai que estava me esperando, sua familia me recebeu muito bem e depois ainda passei mais duas semanas hospedado em sua casa, e aproveitando o tempo para trabalhar na orla da cidade com meus desenhos e arrecadar mais uma grana para continuar viagem.

A impressão que tive do estado do Amapá é de muita preservação ambiental, esta é o eestado mais preservado do Brasil, por lá não tem tantos pontos turísticos como em outros estados, o que por um lado acho bom, já que o turismo muitas vezes acaba se tornnando predatório. Também achei precária a falta de comunicação da capital com o interior, ja que passei em cidades em que além de não haver sinal de celular algum, ainda tinha seus poucos orelhões em péssimás condições e funcionamento. Fora as questões de esquecimento por parte das autoridades públicas que em quase todos os estados é a mesma, principalmente no interior, achei muito legal toda a preservação ambiental do estado, diferente do Pará onde via constantemente na estrada transamazônica caminhões carregados de madeira ilegal retirada da floresta.


Queria agradecer toda a ajuda da familia de minha grande amiga Idiana Amaral que me recebeu em Macapá, desejo a todos muita felicidade. Saudadespôr-do-sol.





amanhecer.





marco zero, onde passa a linha do equador em Macapá.





foto na linha.










orla da cidade de Macapá-AP.





casa onde dormi em Tartaruga Grande, depois de chegar a noite na cidade em baixo de chuva




amigos de Calçoene






pequenas corredeiras na beira da estrada.






ponte que liga Brasil e Guiana Francesa.





Fortaleza de São José, Macapá-AP.

8 comentários:

  1. Grande Kayo,
    Muito interessante o teu relato e me fez reviver essa estrada.
    Kayo o que falastes sobre o cuidado que se deve ter nessa estrada para não ficar a noite sem estar em um lugar seguro deve servir de alerta para os outros que vão fazer a viagem, é que tivestes muita sorte porque como deves saber nessa estrada ainda tem onças e elas andam tranquilamente pela estrada a noite.

    ResponderExcluir
  2. kayo soares, parabéns pela aventura e coragem.

    ResponderExcluir
  3. Kayo parabéns pela viagem. Quero fazer o trajeto Macapa - Oiapoque. Queria fazer em cinco dias. Quais os pontos para dormir que você sugere ? abraços. Mario Yoichi
    myminami@hotmail.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. marifranco19@hotmail.com me escreva quando vier, sou de macapá e ficarei feliz em ajudar.

      Excluir
  4. Parabéns Kayo, farei esta viagen se Deus quiser mas de carro

    ResponderExcluir
  5. Sensacional essa viagem! Só uma correção: essa ponte liga a cidade de Oiapoque à Guiana "Francesa".

    ResponderExcluir
  6. Parabéns cayo pela coragem e força de vontade. Queria ter essa mesma garra e motivação em fazer viagens como essas. Eu comecei a pedalar há poucos meses e to amando cada aventura.
    Só acho que você confundiu nas fotos acima a verdadeira localização, pois você disse que no Tartarugal Grande ficou em um comércio e não em uma casa, acho que aquela casa de varanda deve ser a casa do Breu que você encontrou uma senhora e ela deixou você dormir na varanda..rsrs
    Fiquei curiosa por saber quem foi o senhor curioso que lhe fez várias perguntas que mora em Tartarugalzinho, a cidade que moro aatualmente..rsrs
    Mais uma vez parabéns!Abracos

    ResponderExcluir